Jacob Levy Moreno nasceu a 6 de Maio de 1889 em Bucareste, na Roménia. Era judeu e sua família veio da Espanha. Optimismo e dedicação religiosa eram parte da vida destes judeus e é dentro deste contexto que se pode entender o estilo pessoal de Moreno – expressivo, carismático e criativo – e a sua procura de planos sempre mais altos de espontaneidade, amor e bondade. Moreno tinha a convicção de que o homem para ser amoroso e bom, precisava de tentar imitar as qualidades de Deus, pois só ele era bom.
Aos seis anos de idade, Moreno mudou-se com a família de Bucareste para Viena. Durante a adolescência, importantes leituras marcaram o jovem Jacob: a Bíblia, o Zohar, assim como filósofos Agostinho, Pascal, Marx entre outros. Ele foi particularmente influenciado pelo misticismo judaico e pela Cabala, com seu postulado central de que toda a criação é uma criação Divina.
Moreno estava com quatorze anos de idade e sozinho deu seguimento aos seus estudos, sustentava-se trabalhando como tutor, teve muito sucesso neste trabalho com jovens. Com a separação dos pais Moreno continuou a viver sozinho, tornou-se num rebelde, deixou crescer a barba, deixou a escola e vivia uma vida na rua sem rumo. Apesar da vida que levava o seu aspecto dava-lhe um ar paternal e sábio, mesmo sendo um miúdo, deixava transparecer a ideia de ter a capacidade de ler o que as pessoas pensavam. Ele transmitia ternura, bondade e amor ao próximo. A sua forma de ser tornou-o conhecido e era abordado por pessoas com problemas. Fiel à sua conduta, usava sempre um longo manto verde durante todo o ano. Fazia palestras apelando à santidade da pessoa, à auto-perfeição, ajudar e fazer boas acções sempre no anonimato.
Origem do Psicodrama e dos grupos de encontro
Aos dezanove anos, em 1908, estava matriculado na Faculdade de Medicina de Viena. Durante o tempo de estudos passava os tempos livres a fazer caminhadas pelos parques da cidade juntando crianças e criava grupos de brincadeiras sempre improvisadas. Tinha por hábito contar-lhes contos de fadas, sempre conseguia histórias novas, para não perderem a sensação de encantamento. Para Moreno este trabalho tinha como objectivo dar-lhes a oportunidade de criar formas de lutarem contra os modelos da sociedade, proporcionando-lhes a espontaneidade e a criatividade.
Construía a ideia de um mundo prefeito, onde se encontravam os modelos de um mundo melhor. Queria demonstrar como é possível um homem com sintomas (paranóia, megalomania, exibicionismo, etc.) de desajuste individual e social não era um doente mental, mas que era possível ser uma pessoa controlada e saudável. Estas pessoas podiam ter mais resultados se “representassem” os seus sintomas, como os actores numa peça, ao contrário de os proibir ou dar-lhes uma solução. Ao agir desta forma para com as pessoas cada pessoa antecipava o papel de actor principal do psicodrama da sua própria vida. Estas terapias tinham uma comunicação verbal e não verbal.
Moreno e cinco seguidores dos seus ideais entre 1908 e 1914, viviam no mesmo local. Os serviços que prestavam eram gratuitos e se recebessem alguma gratificação era encaminhada para a Casa do Encontro, um lugar criado para dar abrigo aos refugiados que, nos anos atribulados após a Primeira Guerra Mundial, passavam por Viena à procura de uma nova vida.
A Casa do Encontro era um lugar onde havia ajuda e assistência às pessoas durante o tempo que fosse necessário, até que conseguissem ter uma vida organizada. Todas as noites faziam-se sessões de “grupos de encontro”, para se discutir os problemas e ajudar a esquecer as marcas da Guerra, depois de partilharem os sentimentos, as pessoas divertiam-se cantando e dançando, estes encontros ajudavam muito as pessoas para se animarem.
Estes encontros deram origem aos modelos de grupo de encontro que se foram espalhando mais tarde por todo o mundo. Moreno após o sucesso destes grupos voltou este método de terapia a um dos grupos mais problemático da sociedade: o das prostitutas. Desta forma elas próprias tiveram a oportunidade de se ajudarem umas às outras. Deram-lhes advogados para as defender e médicos para as tratar.
Em 1912, durante o curso de medicina, Moreno esteve presente numa conferência de Freud. Num breve diálogo que conta Moreno ter existido, ele afirma:” O senhor analisa os sonhos de seus pacientes. Eu dou-lhes coragem para sonhar de novo. O senhor analisa-os e despedaça-os. Eu faço-os representar os seus papéis críticos e ajudo-os a reunir de novo os seus pedaços”.
Moreno recebeu o seu diploma de Doutor em Medicina pela Universidade de Viena em 1917, o seu diploma foi um dos últimos assinados pelo Imperador Francisco José.
Na década de 1920, Viena era uma cidade convidativa para os intelectuais e artistas. Os cafés eram o ponto de encontro favorito. Moreno com o seu grupo frequentava o Café Museum, onde teve oportunidade de conhecer algumas personalidades como Martin Buber, Arthur Schnitzer, Robert Musil entre outros. Em 1918 deu inicio à publicação de um jornal mensal de filosofia existencialista, o Daimon. Tinha vários colaboradores intelectuais das suas relações.
Ao mesmo tempo, Moreno começava o seu envolvimento no Teatro da Espontaneidade, um dia ao assistir a uma peça “Assim Falou Zaratustra”, Moreno e os seus amigos quiseram sensibilizar as pessoas que estavam a assistir para fazer valer as suas ideias chamando a atenção para os conflitos entre personagens e espectadores e personagens e actores. Para Moreno o actor devia se representar a si próprio e não encarnar uma personagem, tinha uma teoria sobre um novo teatro, ou seja, as personagens representassem seus próprios problemas e do público, que tivesse muita imaginação e criatividade, como o seu trabalho com as crianças do parque.
Na altura foi um choque para todos tendo Moreno passar uma noite à prisão. Serviu para em 1921 abrir o caminho para a primeira sessão oficial de psicodrama, ficando para a história como o criador do Psicodrama.
Este teatro evolui para o teatro terapêutico. Tornou-se claro, que os actores depois de representar os seus papéis, conviviam melhor com os seus problemas e tornava-se mais fácil num teatro terapêutico defender a espontaneidade no qual as coisas menos perfeitas de um doente mental são de esperar e são bem recebidas.
Este teatro tem um método de acção aprofundada e capaz de transformar, que tanto trabalha as relações entre as pessoas como os ideais de cada um ou de grupos que os alimentam. Esta acção é das mais produtivas e criativas nas áreas da saúde, educação, das organizações e dos projectos sociais. Tem como base de orientação as emoções, pelo grupo, pois procura desenvolver formas espontâneas, discriminar e integrar, com equilíbrio, a pessoa com o grupo, o mundo inteiro com as realidades partilhadas. Para estas acções são utilizadas as comunicações verbais e não verbais.
Continuava a exercer a medicina nos arredores de Viena continuava a não aceitar dinheiro dos doentes, tinha muito gosto no anonimato gerando uma onda de prestígio e fama que ficou apelidado como “ o médico do povo”.
Em Viena começavam os rumores de uma Segunda Guerra, Moreno como judeu deparava-se com a inveja e o desejo de vingança, além da sociedade alemã estar em crescente falta de mérito. Moreno teve uma intuição: deixar a Europa e procurar refúgio nos Estados Unidos, tinha pressa em encontrar um local certo para dar continuidade ao seu trabalho.
Após uma demonstração de como se aplicavam as técnicas de psicodrama para crianças com problemas, foi trabalhar numa clínica, em Nova York. Teve a possibilidade de desenvolver e dar perfeição a vários testes sociométricos e de espontaneidade. É uma técnica de intervenção pedagógica e terapêutica que se dirige a mudar comportamentos em grupos. Foi desenvolvida por Moreno nos anos trinta do séc. XX. Tinha como ponto de partida a avaliação dos problemas sentidos no passado e no presente da vida de um grupo, tentando chegar às formas mais perfeitas de resolver os problemas e os conflitos mais delicados. Este processo tem como base a dramatizarão das experiencias de cada um dos vários elementos do grupo que fazem parte na cena.
O homem para moreno é um indivíduo social, pois nasce em sociedade e tem necessidade de conviver com os outros para sobreviver, sendo capaz de conviver com os outros. Deste modo, ele criou a Socionomia, que quer dizer o estudo das leis que comandam o comportamento social e grupal.
A Sociatria que está dentro da Socionomia, tem como base a terapêutica das relações sociais, e usa como método: a Psicoterapia de Grupo, o Psicodrama e o Sociodrama; como aplicação destes, Moreno tinha como visão a possibilidade de tratamento e de cura do social mais abrangente. O Psicodrama é o tratamento do indivíduo e do grupo através da acção dramática. No Psicodrama de um grupo o actor principal pode ser um indivíduo ou o próprio grupo. A Psicoterapia de Grupo tem como prioridade o tratamento das relações entre grupos incluídas na dinâmica de grupal. No Sociodrama, o actor principal é sempre o grupo e as pessoas estão juntas enquanto mantém alguma actividade ou objectivo em comum.
Um dos objectivos do Psicodrama, do Sociodrama e da Psicoterapia de Grupo é descobrir, aperfeiçoar e utilizar os meios que facilitem o predomínio das relações da espontaneidade sobre relações presentes e as correntes afectivas tal qual são transmitidas e captadas no momento.
Para que tenhamos o prazer de nos sentirmos vivos é preciso que nos reconheçamos como agentes do nosso próprio destino. A espontaneidade é a capacidade de agir de modo adequado diante de situações novas, procurando transformar seus aspectos insatisfatórios.
Moreno, morreu em Beacon, a 14 de Maio de 1974, aos 85 anos de idade.
Fonte: Marineu, René F. Jacob Levy Moreno – 1889-1974: Pai do Psicodrama, da Sociometria e da Psicoterapia de Grupo. São Paulo: Ed. Àgora, 1992
